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SOMOS AS MÃES QUE NINGUÉM  SONHA SER

Explicando os conceitos básicos por trás deste movimento.

Mãe segurando em seu colo um bebê

Deficiência, capacitismo e maternidade atípica

Se você chegou até aqui curioso, já vou falar na lata: somos mães de pessoas com deficiência. Essa é a explicação mais curta e honesta que eu posso te dar. Mas não somos só isso. Somos mulheres com realidades diferentes, com bagagens diferentes e com filhos diferentes entre si.

Apesar de sermos milhares no mundo todo, pouco se fala sobre a nossa realidade. Poucas são as políticas públicas para mães atípicas, o mercado de trabalho não está interessado em nós e, acredite, até parte das próprias pessoas com deficiência prefere que fiquemos em silêncio.

Mas somos mães. E ser mãe muda tudo (e eu também achava que não, até me tornar uma). Não conseguimos ficar caladas diante das limitações impostas aos nossos filhos. Por isso, aqui vai uma explicação direta, para te ajudar a refletir com a gente.

O que é deficiência?

No dicionário, deficiência significa falta, insuficiência ou ausência. Mas no contexto da pessoa com deficiência (PcD), essa definição precisa ser atualizada.

O termo correto é pessoa com deficiência. Expressões como “pessoa especial”, “portador de deficiência” ou “portador de necessidades especiais” são incorretas e capacitistas. Risque essas palavras do seu vocabulário.

Modelo médico da deficiência

Durante muito tempo, prevaleceu a visão de que a deficiência era um problema individual, que impedia a pessoa de viver plenamente na sociedade. Se fosse uma doença, uma condição genética, uma amputação ou uma neurodivergência, tudo isso era encarado como limitação pessoal, nunca como uma falha da sociedade.

Modelo biopsicossocial da deficiência

O modelo biopsicossocial traz uma mudança essencial: entende-se que a deficiência surge da soma entre impedimentos individuais e barreiras sociais, arquitetônicas e culturais.

Ou seja, o problema não está apenas no corpo ou na mente da pessoa, mas em uma sociedade que não é projetada para incluir todas as especificidades humanas. Se o mundo fosse acessível para todos, muitas deficiências deixariam de ser vistas como obstáculos (ainda que precisássemos combater o capacitismo.

O que é capacitismo?

Essa mudança de paradigma é fundamental para combater o capacitismo, o preconceito contra a pessoa com deficiência.

 

O capacitismo aparece em falas, ações e até em pensamentos automáticos — muitas vezes de forma que quem pratica nem percebe. Na prática, é quando alguém julga uma pessoa incapaz sem sequer verificar se ela tem condições ou não de realizar determinada atividade.

E a mãe atípica nisso tudo?

As mães de pessoas com deficiência sofrem o chamado capacitismo por associação: discriminação pelo simples fato de viver situações análogas às dos próprios filhos. E tem mais: quando a mãe atípica não recebe suporte, ela própria pode se tornar mais uma barreira na evolução da criança.

A realidade no Brasil

  • Em 78% dos casos, quando nasce uma criança com deficiência, o pai abandona a família antes dos 5 anos.

  • Em 70% dos casos, a mãe sai do mercado de trabalho — seja porque a empresa não oferece condições, seja porque não há outra rede de apoio para consultas, hospitalizações e terapias.

  • Com a queda na renda, a família não consegue oferecer recursos para o desenvolvimento integral do filho.

  • O peso da sobrecarga também afeta a saúde mental da mãe, o que inevitavelmente impacta a criança.

Essa soma de fatores forma um ciclo perverso: a mãe sobrecarregada e sem apoio não consegue garantir condições mínimas para que o filho tenha melhores oportunidades. No futuro, isso compromete a inclusão dessa pessoa no mercado de trabalho e na sociedade.

O efeito dominó da falta de apoio

A ausência de um olhar dedicado à maternidade atípica cria uma verdadeira bola de neve na vida das famílias, em especial àquelas de baixa renda.
 

O resultado é um ciclo vicioso: enquanto os gastos com terapias, tratamentos e recursos de acessibilidade aumentam, a renda familiar cai drasticamente. Essa instabilidade afeta diretamente o desenvolvimento da criança e, no futuro, amplia ainda mais as barreiras para sua inclusão social e profissional.

gráfico sobre a falta de apoio à maternidade atípica

Por que precisamos falar sobre maternidade atípica?

Porque o silêncio perpetua o capacitismo. Porque milhares de mães atípicas carregam sozinhas uma luta que deveria ser coletiva. E porque, enquanto a sociedade não compreender a deficiência pelo modelo biopsicossocial, continuará a reproduzir exclusão.

Falar sobre maternidade atípica é falar sobre direitos humanos, políticas públicas, saúde mental e justiça social.

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